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A infraestrutura verde das cidades desempenha um papel fundamental na qualidade de vida e bem-estar das populações, o que tem vindo a contribuir para o seu progressivo reconhecimento junto dos decisores e órgãos responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas. Esta infraestrutura encontra-se sustentada na biodiversidade urbana e nas próprias características, ou traits, de cada espécie. Os traits, por sua vez, influenciam as funções que as espécies exercem no ecossistema e nos serviços que estes prestam. “O tamanho das folhas de uma planta é um trait que afeta a sua capacidade de regulação do clima, tal como o tamanho do corpo dos polinizadores afeta a sua capacidade de polinização”, exemplifica a primeira autora do estudo, Filipa Grilo.

O objetivo do estudo publicado na revista npj Urban Sustainability foi então procurar estabelecer um quadro que facilite a interpretação desta cadeia de funcionamento da infraestrutura verde, e que sirva de ferramenta para a sua otimização ao integrar os fatores que a podem afetar agindo sobre os traits – os seus filtros.

Enquanto ao nível ecológico se sabe que filtros abióticos e bióticos podem afetar negativamente a biodiversidade urbana – devido, por exemplo, ao efeito de ilha de calor urbano, ou das interações bióticas como o aparecimento de pragas –, os filtros sociais têm sido menos explorados ao nível científico. Neste estudo, os filtros sociais foram organizados em três grupos: socio-culturais, económicos e de governança.

O perfil socio-cultural dos cidadãos influencia as suas necessidades, usos e preferências em relação à biodiversidade; o poder económico local influencia [o investimento n]a gestão da biodiversidade; e a governança influencia os mecanismos, estratégias e decisões relacionadas com a biodiversidade.

Filipa Grilo

O resultado foi um quadro conceptual (à esquerda) testado sob um cenário de planeamento urbano: numa zona de elevada poluição do ar, qual a diferença entre a plantação de espécies com diferentes características como o eucalipto ou o jacarandá na sua mitigação? Se, por um lado, nas árvores altas de folha perene como o eucalipto, a poluição do ar tende a desencadear respostas fisiológicas nas folhas que conduzem à redução da sua eficiência na purificação do ar e sobrevivência, por outro lado, nas árvores de menor dimensão e folha caduca como o jacarandá, os efeitos não são tão acentuados. Todavia, o tipo de folha resinosa, longeva e de maior área do eucalipto leva a um maior potencial de captação de poluentes. A solução poderá passar por colocar o eucalipto afastado de zonas de maior tráfego automóvel, para potenciar os seus serviços de ecossistema e a sua persistência, e apostar em espécies mais resilientes à poluição do ar (como o jacarandá), e que, portanto, possam assegurar a sua mitigação (e o aumento da qualidade de vida humana) a longo-prazo. Sobre este nível de decisão somar-se-ão ainda outros filtros, como a análise aos encargos logísticos e financeiros das várias hipóteses pelos órgãos de decisão. Retomando o caso citado, a manutenção de espécies de folha caduca incorrerá por exemplo em custos superiores de limpeza urbana.

Este tipo de decisões requer uma consciencialização alargada da sociedade e dos agentes que atuam sobre o planeamento e intervenção urbana, pois têm um impacto muito significativo na cadeia de funcionamento da infraestrutura verde.

É necessário integrar na lógica de gestão e promoção da biodiversidade urbana o conhecimento sobre a sua ecologia, a bem da eficácia das suas funções e, consequentemente, da manutenção dos serviços dos ecossistemas que garantem o nosso bem-estar nas cidades.

Filipa Grilo

O artigo é assinado pelas investigadoras cE3c Filipa Grilo, Margarida Santos-Reis e Cristina Branquinho, e por Timon McPhearson (Urban Systems Lab, The New School, EUA).

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