Foi esta sexta-feira apresentado o primeiro Livro Vermelho da Herdade da Ribeira Abaixo (LVHRA), resultado de um projeto movido pelos alunos finalistas da licenciatura em Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS). A iniciativa foi enquadrada na disciplina de Biologia da Conservação de Vertebrados e contou com a orientação de Maria Dias e Hugo Rebelo.
As Listas e os Livros Vermelhos são elementos cruciais para a conservação da biodiversidade do território e constituem ferramentas indispensáveis para a gestão da conservação da natureza por se basearem em conhecimento técnico-científico. Ao contribuírem para a identificação de prioridades de conservação, assumem um papel relevante como ferramenta no apoio à tomada de decisão e na definição de estratégias e ações de conservação.
No LVHRA, a seleção das espécies acompanhou um conjunto de critérios definido pelos próprios alunos, de forma a incluir não apenas as espécies ameaçadas, mas também as que, embora consideradas como “pouco preocupantes”, são emblemáticas da região. No total, foram produzidas 50 fichas de espécies que compõem a fauna da Serra de Grândola.
Picanço-barreteiro (Lanius senator).
Boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanicum). Adaptação de imagem de Cláudia Baeta, Casa das Ciências (CC BY-NC-SA 4.0).
Entre estas, Maria Dias assinala duas particularmente interessantes: o picanço-barreteiro (Lanius senator) e a boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanicum). O picanço-barreteiro – outrora comum na Herdade –, tem acompanhado a trajetória de declínio registada a nível nacional e global, sendo mesmo “uma das espécies com maior declínio populacional em Portugal nas últimas décadas [provavelmente devido] à destruição do seu habitat pela intensificação agrícola”. Já o estatuto de conservação da boga-portuguesa, endemismo lusitânico a enfrentar perigo de extinção é, sobretudo, reflexo das alterações climáticas, da severidade e duração dos períodos de seca e de temperaturas extremas, e da degradação das linhas de água que ocupa pela poluição e agricultura intensiva. “A Serra da Grândola é um dos locais mais importantes para a espécie, que tem vindo a beneficiar de ações de conservação dirigidas”, refere a investigadora.
Apresentado no “Dia da Biologia da Conservação FCUL” – evento igualmente promovido pelos alunos e onde intervieram os investigadores CE3C Vítor Sousa, Sofia Mendes e Ana Rita Patrício –, o projeto do LVHRA ilustra o grande potencial e impacto da Herdade da Ribeira Abaixo na formação dos alunos de licenciatura e mestrado de CIÊNCIAS que, ano após ano, têm o montado como sala de aula.
"A Herdade da Ribeira Abaixo tem um enorme potencial na formação dos alunos de biologia, devido à sua elevada biodiversidade, por representar um sistema muito característico de Portugal (o montado) mas também por ser um exemplo de compatibilização da atividade humana (agro-silvo-pastoril) com a conservação da natureza. É por isso um excelente caso de estudo para várias disciplinas – desde a biologia mais fundamental até à área da socio-ecologia e da gestão de recursos naturais, e uma excelente infraestrutura para promover a interdisciplinaridade na formação dos alunos."
Maria Dias
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