O Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos apresenta os resultados do exercício de avaliação do risco de extinção dos 43 táxones de peixes de água doce e migradores nativos atualmente reconhecidos em Portugal continental, realizado de acordo com o sistema de classificação da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Foram identificadas as pressões que enfrentam e as ameaças que poderão vir a enfrentar no futuro, bem com as ações de conservação e planos de investigação que necessitam ser desenvolvidos para evitar a sua extinção.
Os resultados revelam que, em 2023, 60% dos táxones avaliados encontram-se ameaçados, tendo sido classificados 6 como criticamente em perigo, 15 em perigo e 5 como vulneráveis. Dentro destes, salientam-se os estatutos de ameaça de espécies endémicas de Portugal e da Península Ibérica: dos 10 endemismos lusitânicos, 3 encontram-se criticamente em perigo e 6 estão em perigo; dos 17 endemismos ibéricos, 4 encontram-se em perigo e 3 foram classificados como vulneráveis. Entre os grupos de peixes migradores (ou diádromos), 3 encontram-se criticamente em perigo, 2 estão em perigo e 2 foram classificados como vulneráveis.
Para a coordenadora do projeto, a investigadora cE3c Filomena Magalhães, “o cenário é ainda mais preocupante quando se constata que 5 outros táxones foram considerados como quase ameaçados, 4 dos quais são endemismos ibéricos, podendo vir a enfrentar risco de extinção na natureza num futuro próximo, e que o esturjão se encontra já regionalmente extinto no nosso país”.
Esta situação resulta de múltiplas pressões e ameaças como a captação de água, infraestruturas hidráulicas transversais, poluição de origem doméstica e agroflorestal, alterações climáticas, a proliferação de espécies exóticas invasoras, a extração de inertes ou a pesca.
Para reverter a situação preocupante em que se encontra o grupo dos peixes, os autores referem que é “particularmente importante desenvolver ações de restauro e gestão dos habitats, ações de comunicação e sensibilização ambiental, promover o desenvolvimento e aplicação da legislação, implementar planos de ação, programas de conservação ex-situ e repovoamentos, proceder ao controle de espécies exóticas invasoras e melhorar a gestão da pesca e comércio”. A necessidade de serem implementados programas de monitorização a longo-prazo é ainda destacada, pela sua capacidade de melhorar a avaliação do risco de extinção das espécies ou informar quanto ao estado e ações de restauro e gestão de habitats.
Além do Livro Vermelho, o projeto permitiu ainda desenvolver o primeiro Sistema Nacional de Informação dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos de Portugal Continental. Trata-se uma plataforma digital interativa que reúne informação histórica e atual sobre as 62 espécies nativas e exóticas de peixes dulciaquícolas e migradores diádromos que ocorrem no continente, e inclui uma funcionalidade de apoio à sua identificação, a ferramenta Peixe Robot. O SNIPAD disponibiliza a informação a múltiplos utilizadores, incluindo técnicos, investigadores, e entidades com responsabilidade na conservação da biodiversidade e na gestão dos recursos aquícolas, mas também ao público em geral, e espera-se que venha a ser um instrumento importante de apoio a atividades técnico-científicas e apoio à decisão e ao exercício da pesca, mas também na divulgação e sensibilização para a situação grave em que se encontra este grupo de vertebrados.
O Projeto Livro Vermelho e Sistema Nacional de Informação dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos de Portugal Continental é apresentado esta quarta-feira, 26 de julho, pelas 16h00, na Faculdade de ciências da Universidade de Lisboa. O projeto foi coordenado pelo cE3c e MARE em representação da FCiências.ID, em parceria com o ICNF, I.P., e foi financiado pelo POSEUR e pelo Fundo Ambiental. Teve início em 2018 e foi concluído em 2023.
Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos de Portugal Continental
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