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Fotografia: Maria Dias.

Têm sido verificados declínios nas populações de aves limícolas um pouco por todo o mundo, ao longo das suas várias rotas migratórias. Algumas das causas foram já identificadas - como as alterações climáticas – mas muito há ainda para compreender acerca dos motivos que estão a originar estas tendências negativas.

Algo comum à grande maioria das aves limícolas é dependerem de zonas húmidas costeiras fora da época de reprodução. Aqui, o dia a dia destas aves é ditado pelo ritmo das marés: alimentam-se nas zonas de lodo, areia ou rocha que ficam expostas durante a maré baixa, e repousam durante a maré cheia nos locais acima do nível da maré. As zonas húmidas têm sido frequentemente sujeitas a pressões antropogénicas, movidas pelo crescimento urbano e inerentes atividades económicas, pelo que poderão estar a perder as condições que suportavam estas espécies de aves. Foi precisamente este o pressuposto que desencadeou o estudo agora publicado, assinado por Maria Dias, investigadora cE3c e docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e por colegas do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM-Lisboa).

“Estudámos as alterações decorridas nos últimos 20 anos nas zonas húmidas mais importantes para as aves limícolas, classificadas como Áreas Importantes para as Aves [do inglês - IBAs], começa por explicar a investigadora. No total, foram analisadas as alterações dos habitats das aves em 907 IBAs, através de imagens de satélite (deteção remota), garantindo a este estudo destaque ao ser o primeiro a fazer uma quantificação e análise das alterações nestas áreas à escala global. As imagens de satélite permitiram observar a variação nas áreas disponíveis para alimentação e repouso destas aves ao longo das últimas décadas.

Os resultados demonstraram que, muito embora as zonas de alimentação (entremarés) não se tenham alterado significativamente na maior parte das regiões, o mesmo não se verificou nas zonas onde as aves repousam. As principais alterações deveram-se não só à colonização de áreas de solo nu (preferidas por muitas espécies pela visibilidade que garantem para a deteção de predadores) por vegetação ou à substituição da flora previamente existente – fenómeno denotado em 51% das IBAs –, mas também à expansão da malha urbana, industrial e agrícola, com particular incidência nas zonas localizadas ao longo da rota migratória do Leste da Ásia e Australásia, que inclui países em rápido crescimento como a China. As condições destes habitats estão efetivamente a degradar-se e, em muitos casos, a desaparecer.

Maria Dias refere que “muitas destas áreas não estão protegidas por lei, pelo que poderão continuar a degradar-se se as atividades humanas não forem regulamentadas”. A conservação de aves migradoras é particularmente complexa por requerer a articulação e ação concertada de vários países. Muitas destas espécies percorrem milhares de quilómetros todos os anos, desde as suas áreas de reprodução, a latitudes mais a norte, para passarem os meses mais frios nas zonas costeiras situadas nas regiões temperadas e tropicais de todo o mundo, pelo que a sua existência depende das condições que encontram nos vários locais onde passam cada fase do seu ciclo de vida.

Assim, a investigadora conclui com a esperança de que este estudo “contribua para que os vários países onde estas áreas estão localizadas assumam a responsabilidade da sua conservação e gestão sustentável”.

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