No Ciências Research Day 2022, data que assinala e celebra anualmente a Ciência construída pelas mentes e mãos dos investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foram divulgados os vencedores dos Scientific Projects Awards Ciências ULisboa. Estes projetos colaborativos entre centros de investigação, procuram fomentar a excelência e o diálogo interno, com vista à exploração de questões que carecem de abordagens multidisciplinares.
Um dos projetos vencedores foi INVASIVES - Biologic invasions across terrestrial and marine habitats: histories, common traits, and ecological impacts, coordenado pela investigadora cE3c Helena Trindade, e por Paula Chainho, investigadora MARE-FCUL, que conta com uma equipa multidisciplinar onde participam ainda o BioISI, Instituto Dom Luiz (IDL), CESAM-FCUL e CIUHCT. O projeto visa contribuir para o conhecimento dos processos ecológicos e drivers ambientais responsáveis pelo comportamento invasor das espécies, e assim prever invasões futuras num cenário de alterações climáticas.
O conceito de espécie invasora – apesar do conhecimento generalizado dos problemas que estas espécies acarretam para o ambiente – não é, na realidade, consensual e tem sido objeto de discussão. A dificuldade reside na falta de critérios bem definidos, uma vez que o sucesso invasor depende não apenas do potencial invasor (inerente às características da espécie) mas também da existência de habitats disponíveis. Atualmente, existem diversas listagens de espécies invasoras, incluindo plantas e invasores aquáticos (exemplos 1 e 2). A União Europeia atualizou em 2019 uma lista com 340 entidades taxonómicas, a fim de estimular o controlo das mais problemáticas. É fundamental priorizar as espécies alvo mais importantes para a implementação de medidas de controlo com base numa análise de risco com critérios bem definidos.
Uma etapa importante do projeto INVASIVES será a comparação do processo invasor em diferentes habitats, para esclarecer quais os fatores-chave desse sucesso. Para isso, a equipa irá debruçar-se sobre espécies vegetais terrestres e de água doce, animais em ambiente marinho e água doce, e insetos, recorrendo a casos de estudo para os quais os diferentes grupos de investigação têm informação prévia em bases de dados, fazendo uma integração de diferentes áreas do conhecimento, desde análises genéticas a características funcionais potenciadoras de invasão, num cenário presente e futuro de alterações climáticas.
Neste projeto, serão estudados em pormenor dois sistemas biológicos, (1) Acacia spp., plantas leguminosas invasoras muito disseminadas em Portugal, que vivem em simbiose com bactérias fixadoras de azoto e (2) os insetos vetores de Xylella fastidiosa, bactéria causadora de doenças em plantas economicamente importantes. Serão particularmente focadas associações entre os microorganismos e Eukarya, procurando descobrir a sua diversidade e adaptações a diferentes habitats, através de metodologias de Next Generation Sequencing. Enquanto na acácia será estudado o papel do microbioma e da interação solo/planta na sua disseminação, em Xylella o estudo recairá sobre a distribuição e infeção de endosimbiontes secundários. O projeto INVASIVES tem ainda por objetivo identificar os drivers climáticos e modelar a dispersão potencial das espécies invasoras definidas como mais relevantes, considerando diferentes cenários de alterações climáticas.
O conhecimento produzido será integrado numa abordagem de ciência cidadã, e divulgado junto da comunidade científica, decisores e público leigo, a fim de informar, prevenir e mitigar a invasão por espécies exóticas.
A equipa do projeto INVASIVES conta com: Helena Trindade (coordenadora), Maria Cristina Duarte, Cristina Máguas, Rui Rebelo, Luís Catarino, Carlos Fernandes, Pedro Pinho, Patrícia Tiago e Adelaide Clemente do cE3c; Paula Chaínho (co-coordenadora) e Filipe Ribeiro do MARE-FCUL; Ricardo Dias, BioISI; Ana Russo, Daniela Lima e Pedro Matos Soares do IDL; Maria Teresa Rebelo, CESAM; e Silvana Munzi, CIUHCT.
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