A distrofia muscular congénita associada ao gene LAMA2 (LAMA2-MD) é a mais comum dentro desta tipologia de doença neuromuscular, e permanece sem cura. É desencadeada por mutações no gene LAMA2 que provocam uma severa redução da força, atrofia da regeneração muscular e malformações nas articulações, cujas consequências são logo detectadas à nascença ou nos primeiros meses de vida.
Nos próximos 4 anos, Diogo Fernandes, assumido entusiasta pelas áreas da biotecnologia e biomedicina, irá dedicar-se ao desenvolvimento de uma nova terapia para esta doença, graças ao financiamento da Fundação “la Caixa”. Entre os perto de 700 candidatos/as elegíveis que a Fundação considerou para a atribuição de bolsa de doutoramento INPhINIT, Diogo foi um dos 30 galardoados, e um dos 3 portugueses vencedores deste altamente competitivo fundo ibérico de incentivo à ciência.
A bolsa de doutoramento da Fundação “la Caixa” tem uma enorme importância do ponto de vista individual, mostrando que o Diogo está entre os melhores jovens investigadores da Península Ibérica, enquanto prova que o CE3C e a Ciências ULisboa têm capacidade de atrair e acolher os melhores estudantes do país. Por outro lado, esta bolsa é também o reconhecimento e uma grande oportunidade para a consolidação da linha de investigação em terapia genética que estamos a desenvolver no laboratório.
Contando novamente com a orientação da investigadora CE3C Ana Rita Carlos, líder do grupo de investigação Molecular Mechanisms of Disease, e de José Escandell, investigador do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (iBET), que haviam já acompanhado a sua tese de mestrado, Diogo irá prosseguir os esforços de criação de uma terapia genética capaz de ultrapassar as dificuldades técnicas existentes e de se converter numa possível estratégia terapêutica para a doença.
A terapia genética tem sido cada vez mais desenvolvida em anos recentes e possibilitado a cura de muitas doenças com origem genética. A maioria das estratégias baseia-se na entrega às células do paciente na forma correta do gene através de vírus. Até ao momento, a maioria das estratégias utilizadas no combate à LAMA2-MD focaram-se em melhorar os sintomas em vez de corrigir o defeito genético. O meu doutoramento procura desenvolver uma terapia genética que permita reparar o defeito genético, permitindo voltar a ter um gene LAMA2 “normal”.
Para tal, irá recorrer ao estudo e utilização da famosa “tesoura genética”, designação que descreve sinteticamente a função da promissora e revolucionária técnica de edição do código genético CRISPR-Cas9, que valeu o Prémio Nobel da Química 2020 à francesa Emmanuelle Charpentier e à norte-americana Jennifer A. Doudna. A técnica foi adaptada de um processo que as bactérias utilizam na sua própria defesa imunitária contra os vírus e assenta na capacidade de cortar a sua cadeia de ADN num local específico, depois introduzir, alterar ou remover segmentos, e voltar a repará-la no final. Uma vez que a LAMA2-MD é provocada por mutações específicas no gene LAMA2, Diogo irá estudar como poderá a “tesoura genética” ajudar a corrigir a origem da doença.
Tendo em conta as grandes dimensões do gene LAMA2 e respetiva proteína, é muito desafiante desenvolver terapias eficazes onde seja possível a sua administração direta. O objetivo do meu doutoramento é desenvolver uma terapia que permita a reparação do gene dos pacientes utilizando o sistema CRISPR-Cas9, as “tesouras genéticas”. Neste projeto pretendo não só desenvolver “tesouras genéticas” muito eficientes, como garantir que estas preciosas ferramentas cheguem especificamente às diversas células do músculo.
Uma equipa internacional de cientistas estimou recentemente que a incidência da distrofia muscular congénita associada ao gene LAMA2 estará entre os 6.27 e os 10.5 casos por cada milhão de pessoas. Na Europa, o número poderá inclusivamente superar esta estimativa e alcançar perto de 14 casos por milhão de habitantes.
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