Equipa internacional, onde participam investigadores portugueses, avalia os cenários de ‘overshoot’ e envolve municípios no estudo das respostas aos riscos climáticos.
Limitar o aumento da temperatura global em 1,5 °C – como estabelecido pelo Acordo de Paris – e assim evitar cenários de ‘overshoot’, é essencial para a redução das pressões sobre os recursos naturais e dos riscos para as populações. Embora os dados do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas indiquem que ainda é possível ficar abaixo deste limite, sem um aumento significativo na ambição da mitigação das alterações climáticas a nível global durante esta década, o ‘overshoot’ do aquecimento global para além dos 1,5 °C torna-se muito provável. Os efeitos serão sentidos em todo mundo, mas com maior severidade nas regiões mais vulneráveis, como o Mediterrâneo.
As evidências recolhidas pelo projeto europeu PROVIDE (Paris Agreement overshooting reversibility, climate impacts and adaptation needs) indicam que o aumento da temperatura irá limitar as opções de adaptação às alterações climáticas no eixo Mediterrânico da Península Ibérica, onde se situa a Área Metropolitana de Lisboa (AML), reconhecida como ‘hotspot’ de vulnerabilidade. Aqui, os riscos físicos são coincidentes com vulnerabilidades socioeconómicas específicas, e os impactos irão derivar dos efeitos das temperaturas extremas, ondas de calor, secas e fogos florestais, e sobre sectores como o agroflorestal, turismo, saúde, energia e infraestruturas.
Atualmente o planeamento da adaptação não considera de forma sistemática as implicações de um 'overshoot’, pelo que o PROVIDE está a envolver os municípios da AML numa avaliação que ‘inverte a normal abordagem de análise de impactos” de forma a permitir “selecionar primeiro os limiares críticos que não queremos ver ultrapassados à escala local”, reforçando a sua resiliência climática. Quem o diz é Tiago Capela Lourenço, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que lidera o projeto em Portugal, e para quem esta é uma das “grandes inovações” do projeto. “Desta forma, decisores e agentes locais poderão monitorizar de forma mais adequada a eficácia das medidas de adaptação adotadas, dado que serão capazes de relacionar diretamente impactos locais com trajetórias de temperatura global que têm tipicamente maior visibilidade científica e mediática e para as quais há uma maior disponibilidade de dados do que em estudos locais”, acrescenta.
O projeto lançou a PROVIDE Climate Risk Dashboard, uma ferramenta web de acesso livre criada para apoiar a tomada de decisão em adaptação que permite explorar os impactes climáticos locais em diferentes cenários de aquecimento global.
Além da AML, foram estudadas outras regiões vulneráveis como Islamabad (Paquistão), Nassau (Bahamas) e Bodø (Noruega). O projeto PROVIDE decorre até 2024, é financiado ao abrigo do programa Horizonte 2020 da União Europeia e liderado por cientistas climáticos, urbanistas e especialistas em adaptação de 17 instituições de 10 países.
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